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  • Segunda-feira, 25 de julho de 2005



    Acordo


    Repousa comigo no silêncio
    O sonho
    Que você acordou comigo

    Tivéssemos cumprido o acordo
    A cor do sonho adormecido
    Teríamos sido tão juntos juntos

    Volta
    ..........Re
    ..............Volta

    Re, pousa comigo no silêncio
    Sombra sobre os ombros
    Incompletude, escombros, sobras, desabrigo

    Enquanto acordo relembro
    E sonho
    Que você acordou comigo



    Weider Weise


    ****


    Poema sobre a incompletude causada pelo Pathos. Brinca com o duplo sentido de acordo. Acordar - despertar e acordar - concordar. O rompimento do acordo desperta uma incompletude em que esperava o cumprimento do acordo. A falta, a ausência sentida deve ser compensada pela imaginação, pela fantasia. Por isso o poema termina com "e sonho/ que você acordou comigo". Brinca também com o rompimento do sonho. Quando se "acorda" o sonho deveria acabar e começar a realidade. Mas como a realidade é desprovida do objeto do "sonho", ao acordar, o eu-lírico sonha, fantasia a realidade fazendo-a parecer com o desejado.

    Há alguns jogos poéticos interessantes:

    "Teríamos sido tão juntos juntos" usa da repetição para reforçar a idéia de fortaleza e união que o verso transcreve.
    "Volta
    ..........Re
    ..............Volta"

    Volta, "Re", volta. Ou, Volta, revolta. Ambos permitidos. O ir do objeto amado e por isso o não cumprimento do "acordo", traz uma revolta ao eu-lírico. Ao mesmo tempo, a dor causada pela ausência, cala por instantes a revolta e o eu-lírico se humilha pedindo que o objeto de seu afeto retorne, volte. Essa estrofe é símbolo perfeito da relação amor-ódio que se instaura na paixão não correspondida.

    "Re, pousa comigo no silêncio
    Sombra sobre os ombros
    Incompletude, escombros, sobras, desabrigo"

    Novamente, Re, pousa, volta, no silêncio..., os versos usam os sons de /br/ para dar a sensação de que algo permance em cada palavra dita. Isto é símbolo perfeito da reminescência que fica e que se pulveriza em tudo quando o ser está apaixonado. Tudo lembra, tudo traz consigo um pedaço daquilo que está ausente. O que não está é percebido em todo o lugar.

    O poema repete alguns versos propositadamente, para reforçar a idéia de que a rememoração do eu-lírico vai se utilizando das mesmas estruturas para se expressar diferentemente, ou seja, ao lembrar o passado e o futuro do passado imaginado não completado no presente, o eu-lírico subverte sua realidade, reconstruindo o presente tal qual deseja que fosse, e ao escrever os mesmos versos com outros sentidos, isto se torna símbolo de que a realidade de cada um é uma mistura de "real" e de "fantasia" para que o ser possa "acordar" e prosseguir com a vida, que possa "acordar" (concordar) com a vida. Mostra que podemos fugir do real através da fantasia, mas que mesmo quando fantasiamos, usamos elementos do real. Isso se mostra nos sonhos. Quando sonhamos, tendemos a utilizar elementos do nosso dia a dia, acontecimentos, fatos, pessoas, que expressam símbolos cujos significados são um compêndio maximizado de possibilidades. Nossas fantasias se fazem em cima de elementos reais. Isso está bem representado no modo em que o poema foi desenvolvido.



    ;;

    Segunda-feira, 11 de julho de 2005


    Ali


    Ali, logo ali
    Desmoronaram

    Poderia ser aqui

    Mas foi ali, por Alá
    Ó lá o que sobrou
    Alicerces cedidos
    devolvidos ao chão
    Ali, logo ali

    As duas torres
    Torradas ao pó
    E as pessoas
    Do pó ao pó
    Perdidas
    Aterradas em terror



    Trilhos estraçalhados
    em Londres e Madri
    Ciscos que ficaram
    nos que ficaram
    nos filhos
    nos cílios que fecharam

    Em nome do sublime
    que não sabe sublimar

    Ali, logo ali
    A intolerência

    Tão perto daqui


    ***


    Este poema foi escrito em 11 de setembro de 2002, muito compassionado ao medo que demonstravam alguns chegados amigos que mora(va)m em Nova Iorque.

    Esqueci-o por um pouco e quando houve o atentado em Madri, não pude deixar de incluir algum verso. O mesmo ocorre agora. Londres. Meu irmão Willer está morando em Londres há quase dois anos, para estudos, e desde que partiu lhe tenho dito que me estranhou o fato do alvo ter sido Madri e não Londres, uma vez que Blair (zombado como o cachorrinho de Bush em canção e clipe de George Michael - Shoot the Dog) é o cachorrinho de Bush. Meus terrores se concretizam.

    O que mais me encanta no ser humano é a sua limitação. É possuir o ódio, o terror, a vergonha, o medo, ímpetos de posse, poder, o desejo, etc. Mas o que nos faz HUMANOS é a capacidade de sublimar isso em arte, expressão verbal, jogos, etc. Quando a pessoa não consegue sublimar isso, ela explode em VIOLENCIA.

    XIITAS: Arranquem a burca da mulherada e GOZEM A VIDA !!! Vamos sublimar essa frustração. VIOLÊNCIA é a forma mais animalesca de ser ouvido.

    O poema usa o som de Ali (nome que lembra árabe) com Alá (Deus em árabe). É um poema contra a iminência do perigo em que (con)vivemos.

    Estamos vendo ser escrita, em tinta cada vez mais indelével, um novo nível de ignorância. A intolerância religiosa e política - um mal estar sintomática do sistema de proteção humano - falha grave - pensando darwinisticamente, quando as regras que deveriam garantir a persistência da vida - estão - pasmem - motivando a morte - o que teme a mãe natureza com essa guerra anunciada? não há vagas suficientes no mundo então devemos nos matar para que a vida persista? não passa de um inverno na evolução humana para que mantenhamos o equilíbrio da vida do mundo?

    Sem falar na cara de pau dos americanos (e companhia) que declaram uma guerra alegando ser reação de defesa, quando se percebe claramente ser uma guerra para gerar divisas (militares e monetárias). Quem ele pensam que estão enganando?

    E o como a coisa anda, já já aparece por aqui os Homem-Bombas.

    Segunda-feira, 04 de julho de 2005


    Medusa


    Oh, terra da liberdade,
    Com que paradoxo recebes ao mundo!
    Não está condenada à prisão perpétua
    A estátua da liberdade?

    Nem mesmo a gigante dama
    Venceu o olhar da velha medusa
    Que nos mede por quanto nos usa.

    Onde está a terra dos animais humanizados?
    Das películas do pau santo?
    Dos azuis, das pedras rolando,
    Do jazigo das canções livres da prisão tonal?

    No lugar dos arbustos de espinhos,
    Que atraem os abutres por sobre o jardim da casa
    Branca, não ficariam as ervas da paz melhor?

    Porque sempre perde o domínio de si o dominador?
    Teu satélite águia me olha roedor nas ruas
    Mas sem espelhos, teu superego está em ruínas
    E teu ego roubou o uniforme do super-homem.

    Segura
    Na mão da estátua
    Contra o chão da paranóia do eterno poder
    Uma tocha de fogo de artifício
    Tão mais bonita que o fogo do míssil

    Oh, terra da liberdade,
    Com que pedras recebes ao mundo!
    Volte ao som de ouro das canções de tom
    Livre da Medusa que medra enquanto nos USA